Fumaça e Espelhos:Contos e Ilusões

Smoke and Mirrors

Neil Gaiman

SINOPSE:

Dos 31 contos (e poesias) que compõem Fumaça e Espelhos, são poucos os que não surpreendem de cara pelas ideias. E os que não chamam atenção nas primeiras linhas geram várias surpresas posteriores, pois você nunca sabe se aquele jovem pacato é um lobisomem ou se o heroico narrador do conto é o assassino. Ou mesmo o assassinado.

Fumaça e espelhos é uma coletânea de textos que Neil Gaiman escreveu nas décadas de 80 e 90. Na categoria de escritor ficcionista profissional, ele teve contos encomendados e publicados por diversas revistas e coletâneas, o que logo se nota pela diversidade de temas. Há desde a sua conhecida predileção por terror fantástico e magia até um conto erótico. Um elemento, porém, une todos os textos: seu vínculo com a tradição.

COMENTÁRIOS:


Antes de qualquer coisa vou dar uma dica para quem for ler Fumaça e Espelhos: Gaiman escondeu uma história dentro da introdução deste livro como uma espécie de recompensa para aqueles que leem religiosamente a introdução. Eu já disse para vocês que amo Neil Gaiman?!

Bem, vamos ao livro. É muito difícil dar um resumo geral, já que se trata de um livro que contém vários contos. É, sem sombra de dúvida, meu livro de contos favorito de Gaiman, e um de meus livros favoritos de todos os livros dele publicados até o atual momento. Alguns dos contos são fantásticos, outros excelentes, outros apenas legais, mas a experiência que você vai viver é algo de muito especial, da forma como só Neil Gaiman é capaz de proporcionar; um pouco de fantasia, de mitologia, de terror, de tristeza, de alegria, de beleza, de feiura... e no fim, apesar de tudo ser apenas uma ilusão você não consegue afastar a sensação de que havia um pouco de realidade em cada história. 

Abaixo, um pouco sobre cada um dos contos com ilustrações feitas para eles por Dave McKean:

Cavalaria: Uma velha senhora compra o Santo Graal. Um cavaleiro de armadura surge em busca do cálice. Gaiman escreveu de forma que o fantástico parece algo costumeiro, numa sequencia bem dia-a-dia no estilo britânico de ser; por exemplo, quando Galahad surge a porta da senhora, ela não acha nada estranho e o diálogo entre eles beira o absurdo e que lembra muito Monthy Phyton (que eu amo de paixão ^^).

Nicholas era...: Um conto de Natal que não fala sobre perdoar. Na verdade, um mini-conto que Gaiman escreveu para servir de cartão de Natal para os amigos.

O Preço: Drama, sangue, anjos e gatos. Não poderia ser melhor. Este conto é muito, muito lindo e eu chorei, quando li da primeira vez. Tenho este conto ilustrado juntamente com A Filha das Corujas.

A ponte do Troll: Uma história com um fim que não está escrito, ele apenas pipoca na sua mente. Um conto sobre alegria e sobre tristeza e... sobre um menino, um troll e uma ponte.

O Palhaço: Uma história de terror com um Jack in the Box... história de terror com palhaços são redundantes, não são?! (hehehehehe). Eu tenho problemas com palhaços desde pequenininha, quando, todas as noites, eu pegava no sono vigiando um palhaço recheado de palha que ficava no meu quarto. Você não conseguiriam imaginar o quanto este palhaço tinha um sorriso malévolo e como eu tinha medo dele. O palhaço deste conto é um pouco pior.

O Lago dos Peixes e Outras Histórias: História de um escritor que vai ter seu livro adaptado para filme em Hollywood. Este conto é meio parado e não me disse muita coisa. Foi o que cheguei mais perto de dizer que não gostei, só não desgostei porque é meio autobiográfico.

A Estrada Branca: Bizarro, macabro, fantástico! Preciso encontrar o conto original inglês sobre o Senhor Fox, que é o Barba Azul britânico, na literatura folclórica.

A Rainha das Facas: Uma homenagem a HP Lovecraft, com show de mágica e ilusões e um final... bom, leia e você vai entender.

Mudanças: Ficção científica do tipo mais bizarro. A cura para o câncer e a descoberta de como criar anjos.

A Filha das Corujas: Fabuloso e triste, é claro. Um conto de fadas sem fadas. O final é de provocar um sorriso. Tenho este conto ilustrado em uma edição especial juntamente com o conto O Preço, só que com o título de Gato Preto (bem mais adequado).

Shoggoth’s Old Peculiar: Mais uma homenagem a HP Lovecraft. Turista norte americano visitando de mochila o interior da Inglaterra e chegando a uma cidadezinha chamada Innsmouth, onde conhece alguns sacerdotes de Cthulhu.

Vírus: Imagine jogos de computador como nossos inimigos, se infiltrando em nossas mentes como se fossem vírus.

Procurando a Garota: um conto muito bem escrito sobre um cara que fica enlouquecido por uma mulher que ele vê numa revista masculina.  (imagem da direita).

Apenas o Fim do Mundo Novamente: O fim do mundo com inspiração em Lovecraft, então, só vou ressaltar: muito bizarro, muito doido, muito divertido, com um protagonista lobisomem e mais Innsmouth e Cthulhu.

Bay Wolf: Uma releitura de Beowulf e Baywatch feita de forma divertida, com o mesmo protagonista do conto anterior.

Arremate por Atacado: Totalmente um episódio de Além da Imaginação. 

Uma Vida Gestada nos Primeiros Trabalhos de Moorcock: Moorcock é o criador de Elric e o conto é sobre um garoto que adora as histórias de Elric. Não gostei muito, confesso.

Cores Frias: Uma espécie de história-poema. Acho que funcionaria melhor tendo ilustrações para acompanhá-la.

O Varredor de Sonhos: Totalmente um conto do universo de Sandman. Curto, simples e legal.



Partes Estrangeiras: Este conto mistura sexo e terror e ficção científica. Imagine Invasores de corpos começando pelas genitálias.

Sestina do Vampiro: Um poema.


Camundongo: Como uma pessoa pode parecer boa e na verdade ser um fdp.

A Mudança do Mar: Poema-história.


Quando Fomos Assistir ao Fim do Mundo. Por Dawnie Morningside, Idade: 11 anos e 3 meses: A visão de um garoto sobre um passeio em família num mundo um pouco diferente do que é o nosso.


Gostos: Conto pornográfico misturado ao sobrenatural. Neil Gaiman afirma ter levado quatro anos para conseguir escrevê-lo, de tão envergonhado que ficava, hehehehe.

Bolinhos de Bebê: Um jeito muito bom de falar sobre as atrocidades que os humanos fazem com os animais.


Mistério de Assassinato: Anjos, uma morte, uma investigação policial no céu. Muito bom, muito cruel. Eu tenho uma edição própria ilustrada deste conto com o título de Mistérios Divinos.


Neve, Vidro e Maçãs: Um dos meus favoritos. Gostaria de ter este conto ilustrado. Imaginem se uma linda "princesa" de contos de fadas não fosse tão boazinha quanto alegou. Imaginem se a "madrasta má" não fosse tão má assim. Só imaginem.


Este conto foi escrito por Neil Gaiman para a PETA.

BOLINHOS DE BEBÊS

Alguns anos atrás, todos os animais foram embora.
Acordamos uma manhã e eles simplesmente não estavam mais lá.
Nem mesmo nos deixaram um bilhete ou disseram adeus. Nunca conseguimos saber ao certo para onde foram.
Sentimos sua falta.
Alguns de nós pensaram que o mundo tinha se acabado, mas não tinha.
Só que não havia mais animais. Não havia gatos ou coelhos, cachorros ou baleias, não havia peixes nos mares, nem pássaros nos céus.
Estávamos sós.
Vagueamos por aí, perdidos por um tempo, e então alguém observou que, só porque não tínhamos mais animais, não havia motivo para mudar nossas vidas. Não havia razão para mudar nossa dieta ou parar de testar produtos que podem nos fazer mal.
Afinal de contas, ainda havia os bebês.
Bebês não falam. Mal podem se mexer. O bebê não é uma criatura racional, pensante.
Fizemos bebês.
E os usamos.
Alguns deles, comemos. Carne de bebê é tenra e suculenta.
Esfolamos suas peles e nos enfeitamos com elas. Couro de bebê é macio e confortável.
Alguns deles usamos em testes.
Mantínhamos seus olhos abertos com fitas adesivas e pingávamos detergentes e shampoos neles, uma gota de cada vez.
Nós os marcamos e os escaldamos. Nós os queimamos. Nós os prendemos com braçadeiras e plantamos eletrodos em seus cérebros. Enxertamos, congelamos e irradiamos.
Os bebês respiravam nossa fumaça e, na veia dos bebês, fluíam nossos remédios e drogas, até eles pararem de respirar ou até o sangue deles não correr mais.
Era duro, é claro, mas necessário.
Ninguém podia negar isso.
Com a partida dos animais, o que mais podíamos fazer?
Algumas pessoas reclamaram, claro. Mas elas sempre fazem isso.
E tudo voltou ao normal.
Só que...
Ontem, todos os bebês se foram.
Não sabemos para onde. Nem mesmo os vimos partir.
Não sabemos o que vamos fazer sem eles.
Mas pensaremos em algo. Humanos são espertos. É o que nos faz superiores aos animais e aos bebês.

Vamos bolar alguma coisa.

No blog Biblioteca Mal-Assombrada você pode ler uma resenha muito boa deste livro.

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